Para muitos, conseguir o Engajamento de Pessoas é um verdadeiro mito! Algo místico, distante, que só acontece em grandes empresas de escritório colorido (tipo o Google). Na maioria das vezes, os gestores sofrem para manter as coisas funcionando, quase implorando para as outras pessoas registrarem uma NC ou analisarem um indicador.
Se você já passou ou está passando por isso, saiba que você não é o único. E mesmo em empresas cujo engajamento é alto, sempre há um ou outro fator que precisa de atenção. As pessoas geralmente escolhem algo em que se engajar, e nem sempre esse algo vai de acordo com os objetivos estratégicos da empresa (mas esse é outro assunto e fica para o próximo artigo).
Para conseguir, então, o envolvimento das pessoas, as empresas executam diversas “Ações diretas” de engajamento. Esse é um “procedimento padrão”, elas trazem resultados claros e ajudam a melhorar os níveis de engajamento na empresa. Essas são ações ativas, focadas em engajar e ligadas, geralmente, a rituais de engajamento.
Entretanto, existem alguns fatores que atuam no engajamento sem, necessariamente, estarem relacionados a uma ação direta. Esses são os Influenciadores do Engajamento.
Diferença entre “ação direta” e “Influenciador de Engajamento de pessoas”
As Ações Diretas precisam ser planejadas especificamente para o engajamento e são executadas periodicamente. Já os Influenciadores atuam na empresa de maneira orgânica e não planejada para o engajamento. Os Influenciadores não são trabalhados para serem ações de engajamento, mas contribuem e orientam as pessoas.
Para ficar um pouco mais claro. Uma Ação Direta é, por exemplo, quando você presenteia um colaborador com um sticker da qualidade porque ele analisou todos os riscos. Você executa uma ação física que reconhece o desempenho dele e, assim, motiva-o a repeti-lo.
Já um Influenciador de Engajamento é quando, por exemplo, você gestor analisa todos os seus indicadores em dia. Isso mostra para o restante das pessoas que analisar os indicadores é algo importante e que precisa ser feito. Você, como um dos líderes da sua empresa, está engajado nisso. Dessa forma você serve como exemplo e influencia outras pessoas a se engajar também.
Os 5 Influenciadores do Engajamento de Pessoas
Existem 5 fatores que influenciam no engajamento. Vejamos cada um deles:
1º Influenciador do engajamento: LIDERANÇA
Não existe engajamento em uma empresa de líderes desengajados. Isso acontece por, basicamente, 2 motivos.
Primeiro porque é a liderança quem dita os rumos da organização. Por mais engajados que os seus colaboradores sejam, eles sempre vão recorrer aos líderes para alinhar a rota e priorizar as coisas.
Se os líderes não forem engajados, eles não conseguirão orientar o restante das pessoas rumo ao engajamento. Um exemplo prático, se a sua liderança não acreditar na gestão de riscos, ela não vai orientar os colaboradores a priorizar a gestão de riscos. Se os colaboradores não forem orientados a isso (de forma sistemática), a maioria deles simplesmente não vai gerir riscos.
Segundo porque as equipes, geralmente, são reflexo de seus líderes. A ciência já provou que quando crianças, nós, seres humanos, aprendemos por repetição. Ou seja, nós captamos padrões e atitudes do ambiente e as replicamos, aperfeiçoamos e melhoramos. Nossas ações básicas, como comer ou falar, foram desenvolvidas assim e essa forma de aprendizado perdura (mesmo que com uma certa dose de controle) quando crescemos.
Nas empresas, a figura da liderança (seja ela formal ou não) exerce muita influência. Os líderes (ou gestores) orientam as atividades, gerenciam as pessoas e detém autoridade. Esses fatores fazem com que eles sejam tomados como exemplo. Suas ações, então, influenciam diretamente nas ações dos colaboradores. Quanto mais verdadeiramente engajado for o líder, mais engajados serão os seus liderados.
2º Influenciador do engajamento: COMUNICAÇÃO
A comunicação é um processo base de qualquer empresa. Todo processo, mudança, melhoria ou projeto precisa ser comunicado e compreendido para que possa atingir seu objetivo. Dessa forma, a comunicação é a porta de entrada para todas as atividades da empresa.
Infelizmente, muitas vezes, a comunicação é a primeira barreira que as pessoas enfrentam nas empresas, impedindo-as de se engajar. Aqui há 3 fatores a se pensar:
- A comunicação simplesmente não acontece, as informações não são repassadas para as pessoas e elas não sabem o que fazer. Não sabendo, não o fazem;
- A comunicação é falha e há tanto ruído que as orientações são insuficientes, as pessoas sabem que existe algo sendo feito, mas não sabem o quê ou como podem ajudar;
- A comunicação está errada, as informações não são confiáveis ou não correspondem ao cenário verdadeiro da empresa.
Agora, pensando nesses 3 fatores, imagine tentar implantar um novo projeto na empresa. A adoção de um novo sistema de gestão, por exemplo a ISO 37001.
Imagine comunicar para uma empresa de, por exemplo, 150 colaboradores que você quer implantar um sistema de gestão antissuborno. Se a comunicação não for extremamente clara, as pessoas podem se ofender, podem achar que a empresa se envolveu em algum problema com o governo, podem surgir rumores de TODOS os tipos de rumos.
Essa má comunicação pode não só minar o engajamento das pessoas no projeto, mas em toda a empresa.
3º Influenciador do engajamento: CONSCIENTIZAÇÃO
Como eu já disse antes, as pessoas geralmente escolhem algo em que se engajar. Isso é normal, afinal somos humanamente incapazes de fazer tudo. O problema é que, muitas vezes, as pessoas se engajam em ações que não, necessariamente, ajudam a atingir os objetivos da empresa.
Elas não o fazem por maldade, nem mesmo propositalmente. Elas simplesmente analisam tudo que lhes é apresentado e decidem. Nosso trabalho, então, é apresentar a elas o significado de cada escolha, ou seja, conscientizá-las sobre a importância de cada coisa. Dessa forma, elas não escolherão nada aleatoriamente e poderão julgar melhor o que é mais importante.
Existe uma grande diferença, por exemplo, entre “tratar a NC nº 235” e “resolver o problema do cliente”. E é isso que nós temos que mostrar para os colaboradores, que tratar a NC não é uma “burocracia da norma”, mas sim uma ação que melhora o processo e as entregas para o cliente; que reduz o retrabalho com o pedido devolvido ou que ajuda a entregar um produto melhor.
Dessa forma, conscientização é, então, mostrar o significado de cada escolha e ação que executamos. Mostrar o verdadeiro significado do trabalho e da Qualidade na empresa.
4º Influenciador do engajamento: TREINAMENTO
Mesmo que o significado correto seja bem comunicado, ainda assim as pessoas podem ter dificuldades. Talvez já tenha acontecido com você: você sai de uma palestra ou reunião altamente motivado. Você entendeu “o que precisa ser feito” e “porque isso é importante”. A comunicação funcionou, mostrou o significado das coisas. Sua energia está mais alta que o Everest!
Então você chega na sua mesa, pensa um pouco e entende que você não tem ideia de “como fazer isso”. Na maioria das vezes, você busca formas de aprender o que precisa, vai atrás de referências, modelos, boas práticas (resumindo, vai entrar no site da Fábrica 😎 haha, brinks!). Ou seja, você buscar treinamentos que ajudem a executar o que precisa ser executado! E você se mantém engajado!
Com o avançar do treinamento, você começa a ter mais clareza do trabalho e, mais que isso, desenvolve novos insights, visualiza mais e mais melhorias. Seu engajamento, que já estava alto, decola! Sai da órbita da terra! Essa é, certamente, uma das melhores sensações que você sentirá na vida!
O problema é que nem sempre as pessoas têm autonomia (hierárquica ou de mindset mesmo) para buscar treinamentos. Nem sempre elas entenderão que esse é o caminho quando “não se consegue enxergar o caminho“. Isso faz com que elas não compreendam que para escalar o Everst, por exemplo, elas precisam primeiro aprender a escalar.
Elas chegam ao pé da montanha, O desafio parece intransponível. Elas sentem medo e o engajamento cai. Então elas procuram se engajar em atividades mais críveis. Naquilo que é possível fazer. E esse ciclo se repete e se repete.
Assim, parte do nosso trabalho é criar um ambiente em que nós ofereçamos os treinamentos certos e, mais que isso, que estimule as pessoas a buscar os treinamentos necessários.
Por isso, a meu ver, o treinamento é uma das mais poderosas armas para engajar!
5º Influenciador do engajamento: PADRONIZAÇÃO
Os Engajamentos de Pessoas pressupõem organização. Quanto mais caótico o ambiente, mais difícil é engajar as pessoas. Não é difícil entender isso.
O que acontece quando um colaborador não tem tarefas bem-definidas? Quando ele faz algo diferente todos os dias e é constantemente interrompido ou realocado? Nesse caso, ele não pertence a lugar nenhum e se adapta para “mudar de foco” a todo instante.
O mesmo acontece quando o processo é diferente para cada colaborador. Se não há padrões a serem seguidos e cada pessoas o executa de um jeito, não há porque, por exemplo, tratar NCs. Não faz sentido, por exemplo, alterar a rotina de trabalho se não há uma rotina geral, ou melhorar o padrão se o padrão não existe.
Nesses casos, nada é realmente importante porque logo logo a prioridade desse colaborador será alterada. Inconscientemente, ele sabe que aquilo é “só mais uma fase”, que ele (ou eles) “sempre rodou o processo desse jeito”. Isso cria uma espécie de cultura do tanto faz, desde que algo esteja sendo feito, tanto faz o que, o como ou o porquê.
Mas Davidson, e a Cultura da Qualidade?
Se você tem problemas com o engajamento de pessoas na sua empresa, provavelmente:
- você NÃO tem um programa de engajamento estruturado, sistemático;
- seus Influenciadores de Engajamento atuam de forma negativa, desestimulando o engajamento.
Esse Influenciadores são tão poderosos que geram engajamento mesmo em empresas que não tem programas sólidos de engajamento. E isso acontece porque, se você analisar de forma mais ampla, eles constituem boa parte do que é necessário para uma boa Cultura da Qualidade.
Muito profissionais acreditam que trabalhar cultura é algo “subjetivo”, que está mais no campo das ideias do que da ação. Entretanto, essa ideia é errônea, pois trabalhar cultura significa executar ações (físicas) que conectem às pessoas aos ideais e objetivos (geralmente abstratos) da organização.
Se tivermos sucesso ao criar essa conexão, as pessoas começam a se envolver emocionalmente com a empresa. Afinal, elas compreendem que seu trabalho não é algo mecânico, sem sentido, mas algo que melhora as vidas dos clientes, dos outros colegas de trabalho, delas próprias e de todos a sua volta!