Muitas pessoas não sabem como definir valores empresariais porque, de fato, nunca pensaram nisso. Nem mesmo no âmbito pessoal. (Um Teste Rápido: Se eu te perguntasse agora, quais são os seus valores, você saberia responder?)
Além disso, muitos profissionais já tiveram problemas com a definição de valores, e até mesmo com os valores definidos. Elas acabaram criando bordões que ninguém seguia, frases que ninguém entendia e apenas mais pontas soltas dentro da empresa. Ou seja, criam valores que não engajavam as pessoas.
Por esse motivo, muitas empresas não definem valores, ou então só o fazem para, depois, engavetá-los em algum cartaz ou manual. É como se os valores fossem um fator místico sobrenatural que, se não forem definidos, punem a empresa. Mas quando definidos, não são seguidos por ninguém.
O fato é que definir valores empresariais que engajam é uma missão desafiadora. E qualquer pessoa que queira enfrentá-la de forma séria, definindo valores que realmente mudam as coisas, vai ter problemas e dificuldades.
Por isso, neste texto, quero falar um pouco mais sobre como definir valores empresariais e indicar alguns caminhos possíveis para defini-los. Você ainda terá que preencher algumas lacunas, é claro, afinal o seu contexto é único. Entretanto, tenho certeza de que você saberá como definir os valores do jeito certo.
A relação Valores / Engajamento
Engajamento é uma das maiores dificuldades no mundo empresarial. Fato! Afinal, como fazer com que 50, 100, 1000 pessoas trabalhem proativamente para um único objetivo?
E os valores têm papel fundamental na jornada do engajamento, pois atuam diretamente nas ações das pessoas e em como elas veem a empresa. Porém, é preciso entender que apenas definir os valores não vai engajar ninguém. Existe um caminho, uma jornada, dos valores dentro da empresa, que vão gradativamente realizando mudanças.
1ª fase – Orientação formal de comportamento
Em um primeiro momento, a definição dos valores vai servir apenas como um direcionamento de comportamentos. Como se a empresa dissesse: “A partir desse momento, fazemos as coisas desse jeito”.
Assim, no início, os valores não vão abalar as estruturas e transformar tudo. Isso é normal. Porém, vão sinalizar de maneira clara quais são os comportamentos desejados pela empresa.
Assim, se for a primeira vez que vocês definem valores ou se estiverem atualizando os antigos, a comunicação eficaz dos valores deixará uma mensagem clara para as pessoas: alguma coisa está mudando!
2ª fase – Diretrizes para tomada de decisão
Depois de definidos os valores, as pessoas começarão a, aos poucos, vivenciá-los. Nesse ponto, as coisas começam a mudar, pois as decisões deixam de ser tomadas no automático e começam a passar pelo crivo dos valores. Talvez ainda haja um pouco de resistência, mas as coisas começam a acontecer.
Porém, para que isso aconteça de verdade, é preciso trabalhar constantemente os valores, incluindo-os na rotina de trabalho. Mesmo porque, há duas formas de tomada de decisões baseada em valores:
A Decisão Ativa
É quando, durante o planejamento de alguma tarefa, projeto ou processo, pensamos nos valores e, baseados neles, nós: acrescentamos ações que nos ajudem a vivenciar os valores ou mudamos ações que não condizem com os valores. Aqui, é preciso incluir na rotina das pessoas momentos para vivenciar e refletir sobre os valores.
Por exemplo, definimos como valor “Comunicação clara com o cliente”. Então, ao trabalhar o processo, definimos formas de nos comunicar com o cliente ou de o cliente se comunicar conosco. Seja criando novos canais de atendimento, notificando o cliente sobre o processo de produção do produto dele ou até mesmo entrando em contato com ele de forma proativa.
A questão aqui é que decidimos usar os valores como forma de melhorar os processos e a empresa.
A Decisão Passiva
Já a atuação passiva funciona como resposta a algo que aconteceu. Aqui, não temos um movimento proativo de analisar os valores e entender como melhorar as coisas com base neles. Temos um movimento reativo, que visa conter crises e resolver problemas.
Por exemplo. Por algum motivo, o processo falhou e os produtos finais saíram defeituosos. Seu colaborador constata que a cada 100 unidades, 15 estão com problemas diversos. Nesse momento, ele precisa tomar uma decisão: enviar para o cliente “assim mesmo” ou atrasar o pedido e reprocessar as unidades defeituosas. O que ele faz?
Se a empresa tem um valor claro de “Comunicação clara com o cliente” e “Conformidade de produtos e serviços”, por exemplo, o seu colaborador saber que pode entrar em contato com comprador, explicar a situação e perguntar se o cliente:
- Quer receber o pedido no prazo, e depois substituir as unidades defeituosas;
- Quer receber apenas as unidades conformes dentro no prazo, e aguardar o restante das unidades para um prazo renegociado;
- Prefere esperar e receber o pedido completo dentro das especificações, mesmo que com atraso.
Não estou dizendo que essas são as únicas opções. Nem mesmo que são as corretas. (o correto é melhorar os processos e entregar Qualidade aos clientes) Entretanto, seguindo os valores podemos tomar decisões mais conscientes, que visem melhores resultados ou resolver situações delicadas.
Ainda seguindo esse exemplo, ainda que seu colaborador não saiba o que fazer, ele perceberá que alguma coisa está errada porque a situação fere os valores definidos. Assim, poderá procurar seu líder ou até mesmo alguém da Qualidade, por exemplo. Isso fará com que o problema seja tratado da maneira certa, e não apenas “seguindo o processo” de forma automática.
3ª fase – Envolvimento emocional com a empresa
Quando a empresa tem um conjunto de valores sinceros, verdadeiros e válidos, o envolvimento das pessoas extrapola a relação empresa/pessoa. É nesses casos que um sentimento genuíno de pertencimento toma conta da empresa e as pessoas realmente se engajam.
Mas isso só acontece quando os valores são definidos com a intenção de criar melhorias verdadeiras e significativas. Mudanças que afetam positivamente a vida das pessoas, sejam elas diretores, colaboradores, clientes ou fornecedores.
Quando isso acontece, os valores provocam mudanças importantes em toda a cadeia de processos. O cliente sente e entende que a empresa tem algo diferente, que ela faz as coisas de um jeito único. Assim, os valores quebram barreiras e criam relações (tanto comerciais como pessoais) mais fortes e duradouras.
Como definir valores empresariais que engajam de verdade
Existem diversos contextos diferentes. Igualmente, o “como” definir valores empresariais também pode ser feito de milhares de formas. Portanto, a definição dos valores deve ser adequada ao contexto da sua empresa. Porém, há um erro bastante comum e que é ponto de partida para atuarmos.
Os valores já existem e estão constantemente atuando na sua empresa (mas muitas vezes os ignoramos, bem como não são os que nós desejamos). Digo isso porque os valores são parte intrínseca da cultura e da convivência humana. Se existem pessoas envolvidas, existem valores! (e em grandes “quantidades”, inclusive!)
O problema é que nem todos esses valores são positivos, nem todos eles vão impulsionar as pessoas e melhorar as coisas. E isso não acontece por maldade das pessoas, porque elas querem prejudicar as empresas ou coisa assim. O problema é que talvez elas nunca tenham pensado nos valores. E talvez ninguém nunca tenha dito que aquelas não são os valores da empresa.
Leve em consideração os valores que já estão presentes na sua empresa
De qualquer forma, desconsiderar esses valores é desconsiderar a história da sua empresa. Você precisa levá-los em consideração. Por isso, minha primeira sugestão é fazer um levantamento dos valores da sua empresa. Isso mesmo, levantar aquilo que já é característico no dia a dia das pessoas.
Mas cuidado, eu estou falando dos valores reais! Daqueles que realmente estão vigentes na empresa e exercem influência sobre os processos. Não daquela lista empeirada que alguém criou mas ninguém nem lembra que existem.
Envolva as pessoas na definição
Eu sei que, em alguns contextos, não dá para trazer todo mundo para discutir os valores. Às vezes é inviável, mas discutir isso somente com o alto escalão fornece uma visão restrita da empresa e não vai gerar grandes mudanças. Porém, quanto mais você envolver as pessoas nesse levantamento, maior será o senso de pertencimento delas e, assim, maior o engajamento.
Então, pergunte para as pessoas: “Para você, quais são os valores da nossa empresa?”
Rode formulários online na empresa. Coloque uma caixinha com papel e caneta em um lugar de grande movimento. Peça para as pessoas falarem com você ou mandarem um e-mail com as sugestões. Ou faça tudo isso junto!
A questão é, colete todas as percepções sobre quais, na opinião das pessoas, são os valores da empresa. Em alguns casos, é claro, você vai precisar explicar um pouco melhor essa história para as pessoas, explicando o que são valores, por exemplo. Enfim, o importante é envolver o máximo possível de pessoas.
Discuta quais valores fazem sentido para o contexto da sua empresa
Feita essa coleta inicial, você terá um “retrato” dos valores da sua empresa. Lembrando, esses valores já regem as coisas por aí, então você vai coletar muitos valores iguais ou parecidos. (Se você tiver 100 respostas e nenhuma delas for igual, o que acredito ser impossível, alguma coisa está errada aí, haha).
Agora, você precisará organizar essas informações de um jeito que possa ser discutido. É preciso avaliar melhor tudo que foi sugerido e ir selecionando aquilo que é benéfico para a empresa e para as pessoas. Você pode classificar tudo e criar algum tipo de “Gestão à vista“, por exemplo.
É possível fazer essa trabalho a portas fechadas e envolver apenas a diretoria, porém não acho que seja o ideal. Aqui, novamente, é interessante envolver pessoas chave na organização, como as lideranças por exemplo. São elas quem convivem diariamente com as outras pessoas da organização. Mesmo que você não consiga envolver todo mundo, o restante das pessoas vai se sentir representada por seus líderes.
P.s.: não estou falando necessariamente de lideranças formais, mas de colaboradores que são líderes mesmo não tendo um cargo hierárquico.
Quantos valores escolher e como formalizá-los?
Feito o refinamento de todos os valores coletados, sugiro que vocês escolham algo entre 3 e 6 valores. Entenda que os valores precisarão promover mudanças muito importantes na empresa. Assim, escolher mais que 6 pode deixar as pessoas perdidas e causar certa sobrecarga de informações. Se for um trabalho inicial, quanto menos, melhor!
Quanto à maneira como você vai formalizá-los, o importante é que as pessoas compreendam o que o valor realmente significa. Sugiro algo pequeno, que seja fácil de lembrar e fixar na cabeça das pessoas. Algumas pessoas optam por frases descritivas, como:
“Melhorar constantemente os processos”
Enquanto outras optam por apenas uma palavra:
“Melhoria continua”
Há casos em que os valores podem ser mais direcionados, específicos. (gosto desses, haha) Como:
“Melhorar os processos eliminando a burocracia existente”
Nenhum dos 3 exemplos está errado. Porém o terceiro, apesar de mais “restritivo” é mais claro para as pessoas. E mais focado em uma necessidade específica da empresa. É mais fácil transformar esse valor em ações, pois direciona melhor o que é preciso fazer.
Se você está iniciando um movimento de melhoria dentro da sua empresa e as pessoas sabem pouco a respeito de Qualidade, começar com um valor mais direcionado (como o terceiro) por ser melhor e mais produtivo.
(Mais tarde, há um momento em que é preciso transformar esses valores em condutas, mas esse é assunto para outro artigo, haha)
Requisitos para bons valores empresariais
Além disso, é preciso definir bons valores empresariais. Como eu disse, eles precisam estar de acordo com o contexto da sua empresa e melhorar as coisas. Para isso, acredito que existam alguns fatores a se levar em conta.
Valores empresariais que realmente engajam as pessoas são:
- Sinceros – Eles são definidos com intenção genuína de melhorar a empresa e as pessoas que nela atuam.
- Verdadeiros – Eles são realmente vividos. As pessoas os buscam constantemente e acreditam neles.
- Válidos – Eles são socialmente benéficos, ou seja, realmente ajudam a mudar o entorno e fortalecer todo o contexto em que a empresa está situada.
“Mas Davidson, e se eu quiser definir novos valores?” 🤔
Seguindo as instruções que eu dei aqui, você fará um raio-x dos valores da sua empresa, certo? Agora, talvez você esteja pensando: “Dessa forma a empresa não vai melhorar, afinal nos valores serão os que já existem”.
Existem empresas centenárias, cujos valores nunca mudaram e continuam garantindo Excelência mundo afora. Assim como existem empresas que que mudam seus valores anualmente e alcançam resultados incríveis!
Assim, a questão inicial é começar um movimento que coloque os valores no radar das pessoas. Só assim eles vão fazer diferença. Se sua empresa for novata na definição de valores, sugiro começar da forma que descrevi nesse artigo. Isso irá girar as engrenagens e envolver as pessoas.
Agora, se as pessoas já estão familiarizadas com o conceito. Se vocês já são veteranos, haha”. Você pode seguir o mesmo processo e mudar a pergunta. Ao invés de perguntar “Para você, quais são os valores da nossa empresa?”, como eu sugeri antes, pergunte algo como:
“Quais valores você acha que ajudariam a melhorar nossos processos?”
ou
“Que valores deveríamos adotar para impulsionar nossos resultados?“
Você pode até mesmo fazer um misto. Escolhendo 3 valores que já são presentes na sua empresa e 3 que vocês gostariam de implantar. Dessa forma, você valoriza a cultura e a história que vocês já trilharam, mas não deixa de mirar novos desafios.
Enfim, tudo vai depender do seu contexto, da maturidade da sua gestão e das pessoas que trabalham com você. (Aqui na Fábrica a gente criou pequenos títulos e descrições, você poder lê-las neste artigo)
Se não for para viver os valores, nem perca seu tempo!
Pensar em como definir valores empresariais é importante, eu diria essencial. Mas o verdadeiro trabalho está em viver os valores definidos. Afinal, não adianta gastar tempo definindo algo que não será posto em prática. (A isso damos o nome de burocracia, e ela costuma não ajudar ninguém)
Portanto, fique ciente de que a definição dos valores é uma parte crucial da cultura da sua empresa. Mas o “como definir valores empresariais” é só uma pequena parte do trabalho. Uma parte que não vai acabar por si só. Será preciso realizar ações para manter os valores ativos e garantir que as pessoas os incorporem.
Então, prepare-se para muito trabalho! Entretanto é um trabalho que te ajudará a criar uma equipe coesa e engajada. E essa é a base para alcançar resultados incríveis, fazendo a diferença no mundo empresarial e na vida das pessoas!
Recadinho final 🏭
Nosso propósito na Fábrica é ajudar pessoas a criarem laços verdadeiros com o trabalho. Porque nós realmente acreditamos que pessoas engajadas mudam o mundo! Assim, oferecemos diversos produtos e serviços que ajudam pessoas a engajar pessoas.
Como os valores são parte fundamental do engajamento, prestamos consultoria e temos um programa completo de definição e atualização dos valores empresariais. O programa passa pelas etapas que descrevi neste artigo e conta com ações periódicas de manutenção e intensificação dos valores junto aos colaboradores.
Além disso, nós analisamos os eu contexto e adequamos as ações à sua empresa. Tudo isso para tornar a definição dos valores especial, divertida e significativa para seus colaboradores e trazer mais resultados para sua empresa. Se você quiser conhecer o programa, entre em contato com a gente!
