De forma geral, sabemos que ainda é muito difícil conseguir o engajamento das pessoas nos Sistemas de Gestão. Geralmente, as reclamações que recebemos são de profissionais que sofrem para conseguir fazer com que as pessoas se envolvam.
Diretoria que não se importa com a Qualidade e “só quer o certificado na parede”. Colaboradores que acham que rodar o PDCA no processo é “um trabalho a mais”. Fornecedores que “compram” certificados para atender clientes. E até mesmo clientes que não valorizam (ou cobram) um sistema de gestão que garanta a qualidade do serviço ou produto que chega até eles.
O resultado disso é uma dificuldade ainda maior de implantar um Sistema de Gestão (da qualidade ou qualquer outro que seja) nas empresas. Além disso, se pensarmos de uma forma geral, os graves problemas econômicos pelos quais passamos se aliam à uma gestão frágil e impactam negativamente no país como um todo.
Mas será que, justamente agora, não deveríamos pensar diferente?
O Japão Pós-Guerra e o Sistemas de Gestão da Qualidade
O Japão apresentou sua rendição nos momentos finais da Segunda Guerra Mundial, em 15 de agosto de 1945. O ataque nuclear havia devastado duas importantes cidades japonesas (Hiroshima e Nagasaki) e o país, como um todo, estava afundado em recessão e baixa moral.
A partir daí, o Japão dedicou seu tempo para o programa de reconstrução. Apenas 10 anos depois, em 1955, o país já era considerado uma grande potência, em franca aceleração, com uma das mais importantes cadeias produtivas. Assim, em 1970, o país já possuía 3º o maior produto interno bruto (PIB) do mundo.
O milagre econômico japonês
Em um intervalo de apenas 25 anos, o Japão deixou ser um país devastado pela guerra para se tornar a 3ª maior potência da humanidade. Essa retomada ficou conhecida como “O milagre econômico japonês”.
Agora, a pergunta é: como? A resposta é: sistemas de gestão!
Se você começar a estudar a história da Qualidade, vai descobrir que o Japão investiu pesado na área. Muitos dos Gurus que conhecemos tiveram participação nesse processo e ganharam prêmios de reconhecimento. Um dos mais famosos, inclusive, que é o Prêmio Deming, foi criado pela Associação Japonesa de Ciência e Engenharia (Juse). (acho que não preciso explicar quem é Deming, haha)
O Japão apostou em padronização, reprodutibilidade. Focou em planejamento, execução, monitoramento e melhoria. Sistemas de gestão (da qualidade e outros) formaram uma base sólida de produção, que permitiu às empresas evoluir, melhorando seus produtos e aumentando a velocidade.
Tudo isso trouxe Qualidade para os produtos, competitividade e reconhecimento, fazendo com que o país ganhasse reputação e conquistasse mercados além mar. Cabe ressaltar: em um período de tempo historicamente quase irrisório.
Outro exemplo: a incrível quantidade de Sistemas de Gestão rodando na China
“Ah, Davidson, mas isso é coisa do passado e não tem mais influência hoje”. Tudo bem, concordo, hoje o Japão passa por alguns problemas, tem dificuldades. Uma delas é o controle da deflação. (deflação, parece piada para gente, mas é um problema sério lá)
Então vamos mudar o foco um pouco, vamos para a China. Eu sei que o senso comum critica a China de todas as formas. Falar que um produto é chinês, geralmente, é uma fala estereotipada de baixa qualidade. Mas não quero discutir isso. Não é minha intenção, nesse texto, fazer esse juízo de valor. Quero falar do alto nível de crescimento do país.
Recentemente, foi anunciado que a China vai se tornar a maior economia do mundo em breve. Até 2028, provavelmente, já terá ultrapassado os americanos (tem uma matéria interessante na BBC Brasil). Dessa forma, a importância e força da China na economia mundial é um fato (seja ela positivo ou negativo).
Pesquisa ISO Survey 2019
A “coincidência” que me chama atenção é que a China tem muitas certificações ISO. Nos sistemas mais recorrentes, a China detém a primeira posição em quase todos eles.
Anualmente, a ISO faz um levantamento das certificações ao redor do mundo. Você consegue acessar esse relatório no site da ISO. O levantamento de 2020 ainda não saiu, mas vejamos o top 5 de países por certificação nas principais normas de gestão em 2019:
ISO 9001:2015 Quality management systems
Country | certificates |
China | 280.386 |
Italy | 95.812 |
Germany | 47.868 |
India | 34.397 |
Japan | 33.330 |
ISO 14001:2015 Environmental management systems
Country | certificates |
China | 134.926 |
Japan | 18.026 |
Italy | 17.386 |
Spain | 12.871 |
United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland | 11.420 |
ISO 22000:2018 Food safety management systems
Country | certificates |
China | 12144 |
India | 2050 |
Greece | 2042 |
Japan | 1360 |
Italy | 1008 |
ISO/IEC 27001:2013 Information technology
Country | certificates |
China | 8.356 |
Japan | 5.245 |
United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland | 2.818 |
India | 2.309 |
Italy | 1.390 |
ISO 45001:2018 Occupational health and safety management systems
Country | certificates |
China | 10.213 |
Italy | 3.518 |
United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland | 2.954 |
India | 2.812 |
Spain | 1.184 |
Então as certificações em sistemas de gestão são o caminho?
Calma, a China não é uma das maiores economias do mundo só porque tem mais certificações. Essa seria uma conta ingênua e muito restritiva. Existem diversos outros fatores, como a abundância de recursos (principalmente mão de obra). Há todo um cenário maior que também precisa ser levado em consideração.
Entretanto, é visível que o país tem se preparado para aproveitar as oportunidades. Tem se qualificado para entregar produtos melhores e garantir bons contratos com o mundo todo.
Os níveis de produção da China são tão “insanos” (por falta de palavra melhor) que você tem diversos itens com origem chinesa aí na sua casa, agora! O dispositivo no qual você está lendo esse texto, provavelmente passou por lá em algum momento.
A questão é, portanto, que este texto apresenta 2 fatos:
- Dois países que tiveram ascensões econômicas incríveis, reconhecidas no mundo inteiro;
- Ambos comprovadamente investiram pesado em Sistemas de Gestão.
Sistemas de Gestão e o Brasil Brasileiro
Tudo que eu procurei fazer nesse texto foi trazer informações. Agrupar alguns poucos dados e fornecer a minha opinião sobre a importância de ter Sistemas de Gestão dentro das empresas e em como isso afetou todo um contexto.
Por um lado, o Japão: uma ilha com poucos recursos e que precisou criar modelos especiais de produção pois não havia espaço para estocar matérias primas e produtos (falando de forma simples). Por outro lado, a China, o 4º maior país do mundo em extensão territorial, com cerca de 1,4 bilhão de habitantes. Ambos são reconhecidamente potencias mundiais.
Agora o Brasil
Nós não tivemos uma grande guerra no Brasil. Não choraram bombas e tiros no nosso território. Nossa extensão territorial é similar a da China, não somos tão menores. E nossa população é quase o dobro da do Japão.
Entretanto, não temos uma cultura de gestão forte. Não estamos acostumados a nos orientar por números e nem mesmo a manter a disciplina em certas ocasiões.
O conflito entre uma mente ensinada a “passar nas provas” e um instinto desbravador dos nossos antepassados (não se engane, apesar dos pesares, o Brasil foi fundado por navegadores) acabou criando uma enorme resistência aos sistemas de gestão. Afinal, “isso é só burocracia”.
Entretanto, é preciso entender que os Sistemas de Gestão modernos abominam o esquema do “copia e cola”. Que eles são boas práticas para melhorar as coisas. Não são um molde ao qual a sua empresa precisa se adequar, mas sim uma espécie de guia que precisa se adequar à sua empresa.
Por fim, depois de ler esse texto, nós temos 2 opções.
Na primeira, ignoramos “toda essa baboseira” e seguimos como se nada tivesse acontecido. Acreditando que os resultados desses país foram obra do acaso ou do destino ou sei lá o que.
Já na segunda, fortalecemos nossa crença de que nada foi ao acaso, e depositamos nossa fé na ciência da gestão. Dito isto, então, saímos desse texto com a missão de procurar formas de engajar cada vez mais pessoas nos sistemas de gestão de nossas empresas.
Com um pouco de “sorte”, daqui a algum tempo seremos nós a experimentarmos um fabuloso “milagre” econômico.