No artigo de hoje, vamos explorar o tema da Semana Mundial da Qualidade 2025, ou seja: “QUALIDADE: Pense diferente”. E pessoal, convenhamos, esse será um tema muito “pauleira”! Aliás, meu ver, o mais complexo dos últimos anos! Por isso, neste texto, você vai entender por que trabalhar esse tema na nossa área é tão complexo e, ao mesmo tempo, absolutamente necessário para evoluirmos.
Antes de continuarmos, vale ressaltar que este texto é baseado em um vídeo meu para o canal da Fábrica. É um vídeo especial para a Semana Mundial da Qualidade 2025, então vou deixa aqui embaixo, caso você queira assistir, se liga:
Por que “Pensar diferente” é um tema complexo?
Para começar, é importante lembrar que, historicamente, a qualidade sempre esteve ligada a seguir e reproduzir padrões! Ou seja, nós sempre buscamos formas de padronizar os processos, reproduzir a padronização e, a partir disso, melhorar a execução. Assim, sempre tivemos grande foco em documentar processos, obedecer às normas e buscar a reprodutibilidade. (esse legado ainda é vital pessoal, pois sem ele não teríamos consistência nem resultados previsíveis, ok?)
Entretanto, essa ênfase na padronização criou também um excesso de, digamos, conforto: em muitos ambientes, a simples ideia de questionar o que já está estabelecido já provoca resistência. Afinal, mudar gera medo, um comportamento humano natural. Dessa forma, quando falamos em “pensar diferente”, colocamos em xeque justamente aquilo que construímos com tanto zelo: nossos processos e padrões.
Conformidade ‘versus’ Excelência
Aqui, também, chegamos a um outro ponto importante que, de certa forma, deriva do nosso foco em padronização. Afinal, ao longo da nossa trajetória, aprendemos a valorizar a conformidade, algo que (de certa forma) entendemos como “fazer exatamente aquilo que o cliente ou a norma pediu”.
Eu mesmo sou um grande entusiasta do cumprimento de requisitos. Busco conformidade em TUDO! No entanto, se nos limitarmos a isso, corremos o risco de estagnar, pois focamos e fazemos apenas mais do mesmo. (Eu constantemente me policio em relação a isso 😅)
E é aí, gente bonita, que entra a “diferença” entre Qualidade e Excelência. Podemos dizer que a qualidade busca atender ao que foi especificado, busca apenas conformidade. Enquanto a excelência nos impulsiona a ir além, ou seja, a inovar, surpreender e criar valor adicional.
Antes de continuar, vale ressaltar 2 aspectos. Entenda como uma “observação” e “ressalva” a esse texto como um todo. Vejamos:
- Primeiro, a ISO 9001 já sinaliza o caminho da Excelência. Afinal, a norma fala sobre “aumento contínuo da satisfação” e não apenas sobre manutenção da conformidade. Mesmo assim, muitas vezes, seguimos presos ao “já faço bem”. Assim, romper essa inércia é o grande, e complexo, desafio do “pense diferente”.
- Segundo: quando nos aprofundamos nos meandros da Qualidade e Excelência, entendemos que ambas são necessárias e codependentes. Uma não existe sem a outra e precisamos de ambas para encantar o cliente, mas esse é outro tema para, talvez, outro artigo.
O valor de ir além das não conformidades (as temidas NCs 👻)
Neste foco, muitas vezes total, em conformidade e reprodutibilidade, aprendemos a não gostar daquilo que desvia do padrão. Muitas vezes, esse desvio é ignorado, desgostado ou até mesmo ocultado, jogado para debaixo do tapete.
Quem, por exemplo, já não viu posts no LinkedIn ou Instagram comemorando auditorias com Zero Não Conformidades… Sei que é um pouco extremo, mas tenho uma teoria de que quem comemora ‘Zero NCs’ ainda não entendeu direito as não conformidades, enfim.
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Não conformidade que “ficaram famosas”
Curiosamente ou não, vários dos maiores sucessos da indústria surgiram justamente de falhas ou desvios de requisitos. Portanto, alguns dos produtos mais usados no mundo surgiram do que poderíamos chamar de não conformidades. Se liga em 3 exemplos clássicos:
- Os queridos Post‑its: na década de 70, a 3M buscava criar uma cola ultra forte, mas acabou produzindo um adesivo removível de baixa aderência. Entretanto, em vez de descartar o produto “não conforme”, o engenheiro e inventor Arthur Fry viu potencial nisso. Assim, as equipes da 3M, encabeçadas por Art, criaram um novo produto e nasceram os nossos lembretes adesivos de cada dia;
- O prático Micro‑ondas: em 1945, o engenheiro norte-americano Percy Spencer notou, acidentalmente, que o chocolate em seu bolso derretia perto de um radar em funcionamento. Assim, ao invés de apenas criar um POP (Procedimento Operacional Padrão) e proibir o alimento no ambiente de trabalho, ele “pensou diferente” e começou a procurar formas de usar essa tecnologia no aquecimento de alimentos. Tempos depois, ele e a Raytheon, empresa onde Spencer trabalhava, criaram o forno de micro‑ondas que usamos hoje;
- Super Bonder (o pai das gambiarras?): Durante a Segunda Guerra, Harry Coover buscava criar uma “lente especial” (um “polímero transparente e forte”, algo como o que, hoje, conhecemos como o policarbonato) para a Eastman Kodak. Entretanto, o resultado foi uma cola extremamente pegajosa. Ao reconhecer o potencial do “erro”, surgiu o produto que hoje usamos para consertos e artesanato. E que, por algum motivo, guardamos na geladeira, hehe.
Esses exemplos demonstram que “pensar diferente” é, muitas vezes, simplesmente enxergar oportunidades onde antes só havia falhas. Afinal, se essas pessoas (Arthur Fry, Percy Spencer e Harry Coover) não enxergassem além do não conforme, três oportunidades gigantes teriam passado despercebidas…
Criando um ambiente seguro para inovar
Por fim, é importante entender que essas pessoas encontraram em suas empresas lugares em que o erro pôde ser transformado em acerto! Para que o “pensar diferente” deixe de ser apenas uma frase de efeito e se torne uma prática diária, precisamos eliminar o medo de errar!
Deming já nos ensinou isso lá atrás (salvo engano em seu 8º princípio): ambientes de trabalho seguros, onde as pessoas não temem represálias, são solo fértil para a criatividade. Nas palavras de Deming: “Eliminar o medo”!
Isso, é claro, não significa incentivar o erro proposital, mas sim construir uma cultura de confiança. Quando os colaboradores se sentem seguros para reportar desvios, questionar processos e sugerir melhorias, abrimos espaço para ideias que podem revolucionar nossos produtos e serviços. Que tal, ao invés de comemorar ‘Zero NCs’, começar eliminando as represálias e acolhendo as tratativas e as pessoas envolvidas? Me parece uma boa ideia e eu faria esse acordo! 🤔
Comemorando a Semana Mundial da Qualidade 2025
Por fim, entendamos que a Semana Mundial da Qualidade 2025 não nos trouxe apenas um tema, mas sim muitas reflexões e complexidades. Entretanto, gente bonita, trabalhar o tema “QUALIDADE: Pense diferente” não exige poderes místicos, propriedades extracorpóreas e alucinógenos, haha. Ao contrário! Exige apenas vontade de enxergar as não conformidades como portas para inovação, por exemplo.
(P.s.: eu disse “por exemplo” porque há muitas outras formas de pensar. Escrevi um outro artigo para o blog da 8Quali que traz outro exemplo, inclusive, vale a pena ler. Clique aqui para ler! 😉)
Mais do que evitar falhas, precisamos entender que, muitas vezes, é nelas que residem as ideias mais transformadoras. Eu espero que este artigo inspire você a cultivar na sua empresa um ambiente onde todos se sintam encorajados a propor o novo. Que seja o primeiro passo para uma nova era na sua empresa e na sua vida como um todo. Afinal, a verdadeira Qualidade nasce de quem ousa pensar diferente!
