A falta de engajamento na Qualidade é um problema desde que o homo sapiens surgiu. Desde aquela época, por exemplo, o pessoal já mapeava o “contexto da organização”. Ou seja, da caverna em que se abrigavam. Faziam isso para saber se havia predadores ou outros riscos próximos.
Entretanto, depois de analisados os riscos, sempre tinha um ou outro desengajado. Um “espertinho” que ignorava as probabilidades e extrapolava os limites da área segura. Consequência: acabava virando comida de T-Rex ou, pior, expondo o grupo ao horário de almoço dos dinossauros.
O fato é que 300 mil anos depois nós ainda sofremos com esse problema!
A única diferença é que nós temos um pouco mais de consciência agora (será?). Porém, acho que há algo em que nós da Qualidade falhamos igualmente desde os primórdios: somos praticamente extraterrestres para o restante do mundo. Estranho? Calma, eu explico!
A busca por Vida Extraterrestre se parece com a visão das pessoas sobre Qualidade
Eu sei que falar sobre a busca de vida extraterrestre parece chacota. Já vem à nossa cabeça um ET cabeçudo verde fluorescente aterrissando sua nave em formato de disco lá nos campos de varginha. Isso sem contar a infinidade de teorias sobre a base americana na Área 51.
Entretanto, zoeiras à parte, existe muita gente séria trabalhando nessa área. Gente séria pesquisando e buscando microrganismos, bactérias, quem sabe até vírus, na imensidão do espaço. (Sem contar os esforços para, talvez do talvez, encontrar vida inteligente, mas deixa isso pra lá).
O grande problema desse pessoal é que eles não sabem o que procurar. Por exemplo, se existe vida lá fora, como ela é? Será que é baseada em carbono, como tudo na terra? Se não for, será baseada em que? Dessa forma, como vamos enviar equipamentos que detectem essa forma de vida? Se não sabemos para onde olhar, como vamos olhar para o lugar certo?
Tudo que criamos é derivado de um emaranhado de conexões e referências que coletamos ao longo da vida. Nada, absolutamente nada, se cria do nada (ficou um pouco confuso, mas espero que tenha entendido 😬). Assim, se não sabemos nada sobre o que talvez exista lá fora, não criamos nada que, de fato, comprove se realmente há algo lá fora.
Nós não sabemos que padrões buscar no espaço e, por isso, temos imensa dificuldade em criar pesquisas consistentes lá fora. (isso sem contar as limitações da nossa tecnologia, mas esse também é outro assunto)
“Mas, Davidson, como a falta de engajamento na Qualidade se relaciona com essa doideira toda?”
Calma, o blog não vai mudar de área e se voltar à ufologia, mas às vezes eu penso que nós somos aliens para o restante de nossas empresas.
O que eu quero dizer com isso é que ninguém sabe o que fazemos, o que comemos ou como podemos ajudar. Nós ficamos “presos” à nossa rotina e processos, e esquecemos de “dar as caras” onde as pessoas mais precisam de nós.
“A Qualidade? Ah, é aquele pessoal da ISO lá. Que fica criando documentos o tempo todo”.
Consequência: as pessoas não sabem que nós existimos. Não entendem que nosso maior “padrão” é ajudar a resolver os problemas dos processos. Ajudar as pessoas. Se as pessoas não sabem disso, não nos procuram. E cada um fica no seu canto, em busca de “vida inteligente fora do setor”.
“Mas a gente sempre aparece, Davidson!”
Talvez você esteja pensando: “Meus Deus, mas eu mando e-mail, cobro NC! E tudo mais”. Gente, eu sei o quanto isso é desgastante. O quão difícil é conciliar todas as nossas tarefas de processos e as cobranças, fazer tudo que nós temos que fazer.
Entretanto, nós já temos consciência de que não existe “trabalho a mais”, que a Qualidade faz parte da nossa vida. O restante das pessoas, nem sempre entende isso. Às vezes, isso tudo que, para nós, é tão comum; para eles é “coisa de outro mundo”. E nós aparecemos do nada para cobrar XY ou Z coisas ou para “inventar moda”.
Consequência: nós parecemos um visitante de outro mundo aparecendo para “dissecar” o que eles estão fazendo. Com nossos olhos esbugalhados de auditor, lançamos raios-lasers de não conformidades sobre eles. Depois “pegamos a nave” e voltamos para o planeta “Salinha da Qualidade”.
Para muitos colaboradores, a gente acaba virando um “ET de Varginha”… Eu sei, cômico se não fosse trágico.
Talvez, o “Primeiro Contato” seja o primeiro passo para deter a falta de Engajamento na Qualidade
Na ficção científica, o Primeiro Contato é literalmente a primeira vez em que nós, seres humanos, encontramos e batemos um papo com extraterrestres tão inteligentes quanto a gente. Mas esse é um conceito que podemos entender como um preceito de vida.
Se, por exemplo, um ET aparecesse por aí, iríamos ter cuidado para nos comunicar e garantir que ele está entendendo o que nós estamos dizendo. (Exceto os E.U.A, eles iam lançar um míssil atômico 😅)
Ou seja, partiríamos do pressuposto de que essa conversa é importante e tomaríamos todas as preocupações para que ela corresse da melhor maneira possível.
Então, porque não tomar esse cuidado quando formos conversar sobre uma não conformidade? Porque não partir do pressuposto de que a pessoa a nossa frente pode não saber tanto quanto nós? Pode, ainda, não ter a mesma consciência?
Não importa se fazemos isso todos os dias. Porque não preparar um “Primeiro Contato” para engajar as pessoas e trazê-las mais para perto do nosso mundo. Porque não tentar ser mais didático e enfrentar a falta de engajamento na Qualidade de frente! Falar com as pessoas, explicar “porque” de aquilo precisar ser feito (Qual a importância de?).
Eu não sei se os ETs existem. Mas se eles existem e eu não sei, a culpa é deles por não se apresentar como deveriam! Na Qualidade, portanto, nosso maior e mais importante papel é apresentar a Qualidade de verdade para as pessoas! Para que ela não seja coisa de outro planeta.