Enquanto a melhoria contínua já é uma verdade palpável em muitas empresas, outras ainda sofrem e se veem estagnadas. Indo mais além, é possível dizer que algumas surfam em um ambiente de inovação e resolução de problemas enquanto a maioria (o “oceano vermelho”) ainda luta para superar a resistência a mudanças.
Mas por quê?
Eu tenho uma teoria, e gostaria de discuti-la com você. Ao final, fique à vontade para dizer que eu viajei na batatinha. Mas acredito que é possível tirar algum insight das reflexões presentes aqui. Principalmente se sua empresa for uma das que está “patinando” na busca por melhoria continua.
Melhoria contínua não é Disrupção
Eu sinceramente acredito que a maioria dos problemas existentes nas organizações começa na cultura. É ela quem molda a forma como as coisas são feitas, e é nesse “como” em que os problemas surgem.
E, na maioria das vezes, os problemas na cultura começam com a má compreensão de algo. No caso da Melhoria contínua, por exemplo, gestores ainda acham que melhoria contínua precisa obrigatoriamente ser disruptiva. Que melhoria contínua “é pouco”. Isso significa que, para ser melhoria, tem que mudar tudo e, como diz o ditado, recriar a roda.
E aqui começam os problemas. Porque isso é difundido dentro da empresa, como um novo mantra ou lei: “Agora iremos adotar a melhoria continua e mudar tudo!”. Assim, para melhorar, não bastam ideias pequenas. Tudo tem de ser colossal.
A busca por ferramentas de inovação
Nessa nova jornada, a empresa precisa se reinventar. O que é ótimo! Mas o problema é que, agora, só ferramentas revolucionárias podem ser utilizadas.
No brainstorming, alguém sugere reforçar o PDCA nos processos, mas logo é cortado por um gestor que bate o martelo: “Nós já usamos, o PDCA é coisa do passado”.
E aí segue a reunião de 2 horas Em-Busca-Da-Ferramenta-Milagrosa-Disruptiva-Que-Vai-Resolver-Nossos-Problemas.
O ovo de Colombo
Eu acredito que a inovação é necessária, e também acredito que encontrar soluções disruptivas é importante. Entretanto, o disruptivo de hoje é o ordinário de amanhã. Muitas das coisas que, hoje, nos parecem comuns e banais foram, em outra época, inovações sem igual.
Em 1988, Isaac Asimov (famoso escritor de Ficção Científica) deu uma entrevista para um programa de tevê aberta. Nela, o escritor disse que no futuro os computadores estariam na casa de todas as pessoas e que isso ia mudar o mundo (não exatamente com essas palavras, haha).
Na época, isso era coisa de ficção científica, era “disruptivo”. Hoje…?
Não há nada de errado em buscar mais, buscar o melhor. Entretanto, cuidado, não inculque na cabeça das pessoas que apenas a reinvenção da roda é suficiente. Cuidado para não acreditar, e pregar, que apenas o surreal é inovador.
Melhoria contínua é apenas uma migalha de pão
Comece reestruturando o bom e velho PDCA. Qualquer empresa que o empregue corretamente tornar-se-á inovadora (usar mesóclise em um artigo sobre inovação é pra cabar, pode criticar à vontade 🤣).
Mas não se engane, pois isso não será nem um pouco fácil. Trabalhar o PDCA de verdade é difícil, repetitivo e desafiador. A cada ciclo, uma nova descoberta acontece, um novo defeito é encontrado, um ponto de melhoria é identificado. Pode ser uma descoberta incrível, ou apenas uma migalha de algo.
Mas você identifica e trata. Então, no ciclo seguinte, você percebe que a tratativa não deu certo (sim, infelizmente acontece) e precisa pensar em outra solução. Começar tudo de novo! E assim vai, e o ciclo se reinicia e se reinicia de novo, infinitamente. Conseguir manter isso rodando se chama disciplina.
Quem tem medo da melhoria contínua?
A melhoria contínua não é nenhum ovni ou bicho papão, é apenas parte do processo. Uma parte comum, como qualquer outra. E isso precisa ser normalizado, para que as pessoas tenham liberdade e tranquilidade para evoluir e, aí sim, melhorar!
Quando essa visão se torna cultural, as pessoas entendem que aquilo é normal. Então, as melhorias começam a acontecer naturalmente. No tempo certo, essas melhorias poderão chegar, inclusive, ao nível de disrupção.
O problema que nós precisamos eliminar é que não dá para construir o teto antes de fazer os alicerces. Não dá para ser revolucionário se nós não fazemos o básico (e tem muita gente tentando isso).